Para a ocasião, foram convocados representantes de instituições de pesquisa, do Ministério da Agricultura, de associações que representam os produtores rurais e produtores de sementes. Foram convidados para a discussão o presidente do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea-MT), Guilherme Nolasco, e o secretário adjunto de agricultura, Alexandre Possebon.
A pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy, explica que quando se faz um número elevado de aplicações no cultivo de soja sobre soja, começa-se a safra fazendo de duas a quatro aplicações, partindo para uma situação de seis a oito aplicações. O fungo, então, migra de uma área para outra e esse alto número de aplicações favorece a pressão de seleção para resistência. “Então toda a discussão é em função desse aumento do aparecimento de isolados resistentes, em função do excesso de aplicações que são feitas nessa soja, e na soja subsequente também”, diz.
Ela destaca que dois grupos de fungicidas, os triazóis e as estrobilurinas, já mostraram uma queda na eficiência. O objetivo é tentar evitar a perda do último modo de ação que existe hoje no mercado para o controle da Ferrugem. A pesquisadora alerta que pode-se chegar a um cenário de não haver produtos para controle da doença. “É uma das doenças mais agressivas da cultura. E pode reduzir até 100% de produtividade. Então, temos que tentar manter esses produtos para que consigamos manter os patamares atuais de produtividade de soja”, ressalta.
Na opinião do fitopatologista José Tadashi, uma das formas de se diminuir a incidência de Ferrugem pode ser a concentração da semeadura. Sendo assim, considera acertado o término do vazio sanitário no dia 30 de setembro, como é atualmente, pois quem semeia em setembro, quando não está chovendo em Mato Grosso, tem que irrigar a lavoura no início do cultivo. Isso multiplica a Ferrugem antecipadamente, prejudicando a grande maioria das lavouras que serão semeadas a partir do momento que chover, em outubro.
“Se todo mundo puder plantar a partir do momento que começar a chover, nós vamos conseguir aplicar fungicida mais ou menos na mesma época e vamos dificultar a sobrevivência de uma eventual raça nova tolerante ao fungicida”, opina.
Segundo o presidente da Comissão, Wanderlei Dias Guerra, para preservar os fungicidas que já existem, não pode ser cultivado soja sobre soja. “Tem que ter um limite de plantio em sequência, mesmo para a produção de sementes”, afirma.
Ele informa que, na última reunião da comissão do ano passado, em outubro, a comissão já havia considerado ideal que o período do vazio sanitário fosse de 15 de abril a 15 de setembro para proibir tal prática. “Mas agora a decisão cabe ao governo estadual analisar qual será a medida tomada para se proteger a produção de soja no estado e se a data do vazio sanitário será alterada”, comenta.
O produtor e presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, que também participou da reunião, acredita que deve ser vista com preocupação a perda de eficiência dos fungicidas e a resistência dos fungos que causam a Ferrugem Asiática. No entanto, em sua opinião, a cadeia produtiva de soja deveria ser discutida como um todo pela comissão. “Temos resistência a ervas, no caso dos herbicidas; temos um problema muito grave hoje quanto ao controle de mosca branca, que são os inseticidas; lagartas que não eram problema para nossa atividade agrícola até quatro, cinco anos atrás e hoje está sendo um problema seríssimo”, ressalta.
Com relação à soja safrinha, Galvan diz que as questões agronômicas têm que ser levadas em conta, mas também deve-se considerar a experiência dos produtores. “Eu mesmo, com relação à soja comercial de safrinha, sou contra; já testamos, já fizemos, não é viável. Agora, para o produtor salvar sua própria semente, ela é extremamente viável”, afirma.
Na opinião do presidente da Comissão, Wanderlei Dias Guerra, a tendência é que se chegue a um consenso sobre a restrição da soja sobre soja, cujo cultivo pode agravar a perda de eficiência dos fungicidas pelo seu uso excessivo no campo. “Se quisermos preservar a lavoura principal, aquela que vai de setembro até março, nós temos que limitar o plantio de soja sobre soja. Isso é fundamental, porque nós não temos ferramentas para fazer frente a uma segunda produção, nós não temos tecnologia”, destaca.
Autor/Fonte: Amanda Sampaio Do G1 MT